• Porque escrever é um vício.

    Li em algum lugar, rapidamente, que a novelista Gloria Perez perdeu outro filho para a morte. Enterrar um filho já é doloroso; dois, é inimaginável.
    Isso me remeteu à quando meu primeiro marido faleceu - num acidente de moto. Minha primeira sogra, uma mulher forte, tinha nos filhos sua realização maior. Marcelo era o caçula, com quem ela naturalmente era mais apegada. O impacto foi tanto, que na semana seguinte ela foi internada com uma crise nervosa. Meses mais tarde, eu vim a saber que continuava sob cuidados médicos, à base de remédios.
    Mas a vida ainda lhe tinha um segundo tranco: quase quatro anos depois, a filha mais velha suicidou-se. A última notícia que tenho deles - dela e do meu sogro -, é que tinham vendido tudo e ido morar na fazenda - no meio do nada em Poços de Caldas. Eles têm mais um filho, do meio, que imagino e desejo esteja bem em algum lugar.
    Fico pensando na fatalidade repetitiva que se abate sobre algumas pessoas: no início, são apenas um casal; têm filhos - dois, três, vários; eles crescem, casam-se e a família se multiplica com noras, genros, netos.
    Então, um dia, a morte começa a varrê-los, um a um, impiedosa, sem aviso prévio, sem contestação, inegociável. Incompreensível.
    Vez ou outra penso neles e no final de novembro lembrei-me dela (a mãe do meu primeiro marido): foi seu aniversário. Tentei calcular no tempo sua idade: talvez setenta anos - um pouco mais ou menos, não tenho certeza. Como terá driblado sua dor nesses dezessseis anos (para ela, certamente muito mais longos)? De que maneira terá sobrevivido a duas tragédias sem sentido?
    Espero que a vida tenha lhe dado algum tipo de descanso ou que tanto sofrimento a tenha anestesiado.
    Ninguém deveria passar por isso...

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