Muitas vezes a gente entra por uma porta e, tal como Alice, depara-se com o País das Maravilhas. E lá, damos de cara com a Rainha de Copas, o Coelho Maluco, biscoitos que nos fazem crescer e encolher: tem um mundo em nós que continua encantado, acreditem.
Eu me lembro de quando era criança: tinha medo de jacarés - achava que um morava debaixo da minha cama -, de que meus pais morressem, de ficar sozinha.
Cresci e não dá pra dizer que os medos mudaram muito. É só que passei a maior parte da minha vida em companhia da solidão, meu pai se foi quando eu pensava que ele ia viver para sempre, o jacaré, de certa forma, continua lá - não importa em que camas eu durma.
É assim que as coisas são: os medos transformados em verdade.
Na infância brincamos de roda; com o tempo, nos vemos no viés de uma grande ciranda: continuamos girando em círculo. Viciados na brincadeira inocente, esquecemos que, quando adultos, esse movimento repetido nos deixa tontos e sem rumo - o problema é que, muitas vezes, não conseguimos parar.
A vida, dizem, é que não pára nem espera. É um dia após o outro e, se a gente aprender a viver assim - sem muitos olhos para o passado nem ansiedades quanto ao futuro -, é possível que consigamos pairar sobre algum tipo de felicidade - que para cada um se faz de um jeito.
Ancorar-se no presente é um bom atalho. E quando tudo ficar muito difícil, entrar pela porta e trancar-se lá, no País das Maravilhas - saindo só quando vierem avisar que é hora do chá...
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