• Porque escrever é um vício.

    Então minha mãe veio a S. Paulo para o tal encontro inadiável e eu a acompanhei.

    Essas ocasiões não abrem margem para muitos comentários: tudo acontece de um jeito naturalmente mecânico, ações e reações muito previsíveis - quem sabe se a dor da perda tem uma única face.

    Mas há algo que sempre me chama a atenção: os cemitérios - que eu chamo de Estações do Adeus.

    Todas as vezes que me vejo diante dos portões de ferro, muros de pedra fosca que envolvem as lápides frias, estremeço diante do abismo...

    Há um tipo de silêncio pelas brechas entre os túmulos - não importa quão urbanamente um cemitério esteja localizado.

    Um frio também envolve o lugar: uma brisa, um vento sutil está sempre presente, e as folhas das árvores balançam, tranquilas, quase em câmera lenta.

    E não é raro: mesmo com sol, uma garoa fina desce seu manto - talvez o céu, acima desses terrenos, esteja sempre a chorar...

    Vou dizer: pouco entendo da Vida, e exceto pela dor, nada compreendo da Morte...

    Mas penso se esses que dormem, quietos, imersos na terra, na verdade não caminham no meio de nós...

    Eu que já morri tantas vezes sem que ninguém percebesse, trago comigo a dúvida incômoda de muitas vezes não saber quem são os vivos, quem são os mortos: mora em mim uma estranha certeza, que me sussurra que a Vida e a Morte são uma só Dama...




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