• Porque escrever é um vício.

    Presença de Anita, o livro: segundas impressões...



    Leio, vagarosa e preguiçosa, deleitando-me suavemente nas palavras elaboradas do autor, nos detalhes, nos cenários iluminados à meia luz.

    Tudo bastante diferente do que foi retratado nas telas - começando por Anita, que era loura, como eu...

    E tudo se passa num sótão, não num sobrado - Esquina do Vento.

    Diferente também é a imagem da moça: na minissérie, ela chegava a provocar asco, com sua vulgaridade exagerada; mas a Anita original abriga a inocência própria de sua idade, sua malícia apenas um paliativo para amenizar a armadilha em que se enroscou: a paixão, o desmedido amor por um homem casado - Eduardo (e não Fernando).



    Lúcia, a mulher, é como tantas (e também diferente da que 'conhecemos' na adaptação): deixou-se perder o encantamento, ficou à margem, apenas acompanhando os dias e as noites, numa sucessão interminável e sem sentido. Exceto os filhos, nada lhe importa muito - nem mesmo a descoberta de que o marido lhe escapa. Ao contrário: sua apatia é tanta, que apenas esboça um silencioso pedido de discrição. Não tem qualquer intenção de recuperar sua vida em comum; quer, simplesmente, manter as aparências...



    Sou bastante tradicional, confesso: o rompimento do casamento por conta da brecha que a rotina e a desilusão - próprias das relações -, eventualmente abrem para uma terceira pessoa se infiltrar, cause-me profundo mal-estar.

    Mas dou-me a flexibilidade de olhar com olhos menos críticos para uma mulher que se envereda por essa teia: ela, aquela que fica com os vãos dos sentimentos, com as sobras do tempo, com a pressa, com os restos da vida daquele que lhe ilumina corpo e alma e que, por ironia, tem seu destino entrelaçado a uma 'rival', guarda em si toda a solidão do mundo.

    Ela tem só metade de um homem - mesmo que ele diga amá-la.

    E, na verdade, quase sempre, suspeito que ele não a ame...

    É só uma percepção, não uma generalização, claro: há casos e Casos e, em alguns deles (ou muitos, quem verdadeiramente pode saber?), o amor realmente acaba e se inicia por outra pessoa através dessas rachaduras.

    Mas a cada vez que uma história dessa é contada, questões me afloram: não estará esse homem fugindo de si mesmo, do seu fracasso, da sua incapacidade de compreender onde está o erro - e da disposição de consertá-lo? Não estará esse homem apavorado porque sua mulher não lhe sorri mais nem há brilho em seu olhar, e ela já não lhe toca como antes? Não será esse desvio uma maneira de ignorar seu desapontamento? Talvez, nesse desespero incontido de não saber o que fazer, de não conseguir remediar, escorrega-se por esse buraco sem fundo: na ânsia de reafirmar-se (desejado e necessário) vai-se em busca desse 'tesouro' perdido em outros olhos, em outras bocas, em novas mãos...

    O problema é que, não raro, voltam - ou seguem - de braços vazios, nem felizes, nem infelizes: ocos. E causando mágoas em todos os envolvidos, quando, na maioria das vezes, podiam rearrumar tudo sem tantos traumas...



    Eu terminei apenas o capítulo V.




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