• Porque escrever é um vício.

    Pois então: eu, que ultimamente não tenho paciência pra TV, mas amo minisséries, estou às voltas com 'Queridos Amigos'.

    Como sempre, estamos diante de uma produção impecável e, dessa vez, com Maria Adelaide Amaral estreando um texto de sua inteira autoria. A seleção musical dá um aperto no coração: fica ao fundo, quase sempre, uma música distante, como a contar uma história paralela - uma segunda mente da história. Muito perspicaz...

    Mais interessante é ver que os dias, os entraves, os embates, as frustrações, os conflitos, as angústias, os rancores, os amores, traições e mágoas são os mesmos em qualquer tempo: ontem, hoje e amanhã parecem reflexos de si mesmos, um nos olhos do espelho dos outros.

    O capítulo de hoje (agora já é ontem) teve uma cena muito bonita e especial - um diálogo intenso entre os personagens Léo (Dan Stulbach) e Lena (Débora Block), na ponte iluminada sobre o Anhangabaú. E aqui abro um parênteses: quem dera se pudesse caminhar por ali nas madrugadas insones dos dias atuais! À margem da meia luz com ares de Paris, a balaustrada de ferro fundido, o lugar seria o palco perfeito para revelações de segredos, de dores, de sentimentos enrustidos, antigos, dolorosamente loucos...

    Mas a frase em questão - que anotei na memória que 'fotografou' a emoção dos envolvidos -, fala de afeto e de como ele pode se perder, se quebrar, se romper no deslize de um desejo fugaz. É forte, densa, quase triste:

    "Afeto assim é muito raro, muito precioso pro sexo botar tudo a perder. (...) O sexo subverte, tira a espontaneidade, cria expectativas, confere poder. Eu não gostaria de te odiar só porque você não fez o gesto que eu esperava ou não disse aquilo que eu queria ouvir. (...) Nós somos humanos."

    A beleza das relações de amizade sempre me encantaram. Ao mesmo tempo, eu sempre soube que em toda amizade entre um homem e uma mulher alguém sai machucado. É inevitável: a linha que separa o sentimento fraterno da avassaladora paixão é muito tênue. E não é raro que se ame um amigo, mas por imenso medo de perder a confiança e o afeto que se construiu, se abdique do que pode causar dor e mágoa a ponto de não se conseguir ter de volta a cumplicidade, o carinho, a mão sempre estendida para uma caminhada noturna, um café na madrugada, um ombro na noite escura que quase sempre nos abraça. Mas afinal: em todas as relações alguém sempre não sai ferido - ama mais, se dedica mais, se doa incondicionalmente?

    Falemos de Amigos... Faz tempo não encontro um...

    E sim: a cena - Revelação - se alguém quiser ver - ou rever -, vale a pena.

    2 comentários:

    Marisa Nascimento disse...

    Bom dia, Débora!
    Que bom te ler de novo!
    Acho que "Queridos Amigos" está tirando uma horinha de sono de muita gente. Eu, que abomino um pouco televisão, esperava ansiosamente pelo início da série.
    Ela trabalha muito com o nosso emocional. O Dan Stulbach está perfeito no papel e acho que todo mundo fica com vontade de dar colo para ele.
    Algo me diz que ainda vou derramar algumas lágrimas acompanhando essa série. E, talvez, a sensibilidade que ela desperta, seja justamente porque sabemos bem a força que tem uma grande amizade.
    O segredo é estarmos atentos aos mínimos detalhes da vida para conservar velhos amigos e plantar muitos outros novos.
    Grande beijo.

    Mari Monici disse...

    Bom..eu também não vejo de verdade um amigo pra uma caminhada qualquer há tempos...perdi os que tinha...e me convenceram de que não existiam realmente...não sei...se puder transformar o amor em amigo ao invés do amigo em amor...acho mais seguro :)
    beijo!

     

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