• Porque escrever é um vício.

    Pois agora, hoje - mais exatamente às 08:11 hs. da manhã -, são nove anos sem o meu pai.

    No ano passado eu estive numa psiquiatra para um tratamento: sofria de dor crônica por conta de uma hérnia de disco na lombar, acrescida de dor generalizada (a tal da fibromialgia), que tinha, segundo outros médicos, uma co-relação com uma depressão enrustica. Bom, 'enrustica' é uma maneira delicada de se referir a esse sentimento inquietante de amargura e melancolia que, de tempos em tempos, em mim se acentua - nunca me abandona, deixemos claro, mas em algumas fases se agiganta e me paralisa de um jeito que, dizem, só 'pílulas azuis' resolvem.

    Então tá. Daí a psiquiatra perguntou o que me entristecia. Eu enumerei alguns ítens e entre eles estava a ausência do meu pai que, expliquei, tinha morrido de câncer de fígado. Acho que ela pensou que a coisa tinha sido recente, porque quando eu falei que se iam oito anos e meio e que eu ainda não havia me acostumado, a expressão do rosto dela mudou e acho que foi aí que ela concluiu que eu sofria de uma depressão bem profunda - sim, porque o espanto dela ao perguntar novamente "há quanto tempo?" não foi capaz de traí-la.

    Pra encurtar: eu tomei remédios (caríssimos!) por três meses que logo perderam o efeito - mas que durante o período 'vigente' me fizeram dormir e não derramar uma lágrima. Daí eu voltei a chorar, a ter dor generalizada e a acumular madrugadas insones.

    Então o médico da coluna falou que era preciso operar urgentemente, antes que eu não pudesse mais andar: eu fiz uma cirugia espiritual - daquelas coisas que ninguém sabe explicar e nem entender. Eu, pessoalmente, sequer acreditava.

    E é assim: não tenho mais dor generalizada, e a dor nas costas é leve, muito eventual e suportável. Faz tempo que não choro e, apesar da insônia constante, tenho períodos de sono regular - talvez seja mais um caso de troca do dia pela noite que insônia propriamente dita.

    Mas é o seguinte: eu não deixo de pensar no meu pai nenhum dia e ainda não me acostumo com sua falta. E não tem dor maior do que essa - embora ela fique imperceptível à maioria dos olhos alheios -, nem pílula, de qualquer cor, capaz de amenizar essa incompreensão ou preencher essa lacuna...

    *13/09/1946 /04/07/1998


    9 comentários:

    Anônimo disse...

    Hoje saio do anonimato para dizer que conheço bem a tua dor... Segunda-feira, 9/7, completará um período de seis anos sem a minha mãe. Dor que não passa, luto que não se esquece... Por mais que tentemos sorrir com plenitude, bem dentro de nós a ausência agride.

    O belo que consigo extrair dessa perda resume-se no fato de que tenho por quem chorar, um laço sagrado e honrado para lamentar a falta.

    Meu carinho,

    Carlota

    Kika disse...

    Oi querida,
    Eu, ao contrário, não posso dizer que te entendo, que sei o que vc sente. Nào sei.
    Mas, juro que me solidarizo com vc, que estou à disposição para ouvir, falar, papear, enfim... Ajudar como puder, naquilo que mesmo que não saiba bem o que é, sei que é triste pra vc.
    E para isso servem os amigos, não?
    Bjs. Todo meu carinho,
    Ana

    Analu Menezes disse...

    Oi Dé, eu sempre vejo nos seus olhos esse tom cinza, algo que vai além de sua risada contagiante e da sua energia diante da vida. O que sei é que cada um traz em si esses "buracos da alma" que não há os que os façam ser preenchidos. Como diz o Caetano "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
    um beijo e meu carinho, querida!

    Anônimo disse...

    Não posso deixar de lembrar: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
    Fique bem, fique com Deus.
    Com carinho, sempre.
    Beijos ternos

    Anônimo disse...

    Não posso deixar de lembrar: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
    Fique bem, fique com Deus.
    Com carinho, sempre.
    Beijos ternos

    Anônimo disse...

    Querida,

    É acho que essa dor de perder pai/mãe, só quem já passou por isso para entender e sentir perfeitamente o que você escreveu.
    Estou agora em lágrimas...
    Em 10/05 completou 7anos que o meu pai faleceu... essa dor me acompanha, mas têm sido mais amena. Acho que eu o vi/sonhei em 13/01/2005, nunca mas senti aquela dor "ruim". Agora é um dor gostosa de saudades.
    Ah... meu pai. Quanta saudades.

    Saudades de você e de seus textos sempre.

    Um beijo bem grande.Ótimo fim de semana.

    Thaís

    Priscila Manhães disse...

    Debby,

    Eu não sei se contei lá na lista, mas eu perdi meu pai. Lembra que eu contei que ele teve AVC e tudo que estava passando com ele? Pois é, ele teve outro e não aguentou. E isso ja vai fazer dois anos. chorei agora, porque acho que está acontecendo o mesmo comigo. Sinto dores e fico mais de quatro dias sem dormi, nem ao menos cochilar, os olhos ardem, ficam vermelhos, eu fico muito mal. Os psiquiatras receitam remédios mas eu não consigo tomar por muito tempo, fico lenta e não consigo trabalhar. Estou precisando dessa cirurgia espiritual.

    Um abraço apertado
    Priscila

    Anônimo disse...

    "não me acostumo com sua falta"...
    e pode ser que essa dor-sem-fim seja exatamente uma forma de tê-lo perto. na verdade não é uma falta, mas uma presença enorme.
    quando pai partiu, eu me quebrei toda. a fervura foi tão grande que algumas partes de mim foram desabando... assim eu pude ME ver mais de perto, sem essas camadas, e fui me juntando de uma forma melhor. hoje eu agradeço essa dor porque sei que sou uma pessoa melhor. não por ele não está mais vivendo por aqui, mas porque o sinto dentro. quando penso nele abro um sorriso largo e me sinto privilegiada de te-lo tido pai.

    Anônimo disse...

    o comentário foi sem que eu terminasse...
    meu desejo ainda é o mesmo, que você consiga olhar pro lado do copo que está cheio :-)
    meu carinho
    lilia

     

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