• Porque escrever é um vício.

    Foi hoje à tarde (agora já é ontem): eu estava indo para a casa dela e levava uma torta de limão - porque da última vez que ela esteve aqui, levou um pedacinho pra mãe, que adorou, e eu prometi levar uma inteira.
    Ia feliz, pensando na tarde alegre que vinha pela frente.
    Mas no meio do caminho, um carro resolveu me atropelar: eu vinha tranquila e ele estava parado, à direita; achou de cruzar a avenida pra entrar numa garagem do outro lado da rua. Olhou pelo retrovisor - que segundo ele estava embaçado (!!!) -, e não me viu: eu devia estar a cinco metros quando ele engatou primeira e acelerou. Tudo bem: chovia a cântaros. Mas eu vinha com os faróis acesos!
    O impacto foi tanto, que demorei algum tempo pra entender que era comigo.
    É bem engraçado isso: quando a gente percebe que pode bater, tem o susto de tentar desviar, de tentar impedir - às vezes inultimente; mas quando você nem vê de onde saiu o outro carro, apesar do reflexo de frear, não tem certeza de que a coisa é com você.
    E de repente, tudo pára. Dura menos que cinco segundos e então é como se o tempo estancasse - ali e ao redor. Todo mundo pára.
    No momento seguinte, tem alguém batendo no vidro do carro, perguntando se você está machucada: você, graças a Deus, não está.
    Então se dá conta de que era tudo verdade: é mesmo com você aquele tumulto e há que se tomar providências - especialmente, tirar o carro da passagem que, no meu caso, arrastado pelo outro motorista, ficou completamente atravessado no meio da rua. O que vem depois é meio automático: ligar pra casa - santo celular que hoje lembrei de levar, sabe-se lá porque -, e acionar seguro, esperar o guincho, conversar com a outra parte. Só fiz o primeiro ítem, diga-se de passagem: eu dirijo há dezessete anos, fui piloto de rallye, só bati o carro uma vez (com um doido bêbado que atravessou a pista de frente no meu carro e quase me matou - e isso foi há quinze anos e eu não vi nada, que só acordei dois dias depois), de modo que não sei como agir.
    E então você chora. Debruça no volante e chora: está sozinha, assustada, vulnerável.
    Meu marido chegou e é sempre bom vê-lo: simplesmente pergunta como estou e me abraça - não quer ver o carro nem saber como foi, só como estou. E resolve tudo: num passe de mágica, está tudo bem, acabou, podemos ir pra casa.
    Antes, como se nada tivesse acontecido, passar na empresa - ele tinha uma reunião - e depois jantar. Lembrar de avisá-la - que, na confusão, seu telefone me fugiu da memória e eu sabia que ela estava preocupada porque eu nunca chegava... A torta? Totalmente despedaçada, chantilly por tudo, levada pela enxurrada - entortada de vez, como brincou meu marido.
    Mas é assim: a vida vale pelo momento. Você sai de casa e não sabe se vai chegar onde programou e te esperam, nem se vai voltar.
    Então é tratar de viver. Intensamente.

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