• Porque escrever é um vício.

    Domingo revimos Cidade dos Anjos - a refilmagem americana de Asas do Desejo, de Wim Wenders, com Meg Ryan, Nicholas Cage e Andre Braugher, ator negro dono de um dos sorrisos mais lindos que eu já vi (pena ele ainda aparecer pouco).
    Esse é mais um filme que pertence à safra dos enredos que caminham para um final feliz e acabam surpreendendo com o que eu chamo de tragédia sem sentido.
    Mas a mensagem dele é bonita e especial. O livre arbítrio. A queda pelo amor.
    Quantos de nós teriam coragem de descer dos céus, saltando no abismo do desconhecido, para aprender e sentir de dor, sofrimento, de lágrimas, morte e saudade? Quantos apostariam a eternidade por um beijo, um toque das mãos, um olhar, um dia junto de alguém?
    Encanta-me também as cenas da praia, o amanhecer e o anoitecer, anjos de preto reunidos ao som de uma música que só a eles é dado o direito de ouvir. E na biblioteca...
    E então, quando me lembro deles, de seus olhos, fico pensando quantos anjos vagam por essa terra, despencados por suas escolhas. Com quantos já terei cruzado?
    Isso me faz lembrar de uma ocasião em que eu saía do trabalho, já muito tarde - aqueles dias em que uma redação de jornal pode te prender por quinze horas em suas paredes. Eu ia para casa dirigindo devagar, a cabeça a mil - eu era jovem, tinha ficado viúva, vivia sozinha, cheia de responsabilidades de repente, sem saber nada sobre o presente, apavorada com o futuro. Chorava - sem razão e por todas. Parei no semáforo e uma garotinha se aproximou do vidro do carro: tinha a pele queimada de sol, os olhos muito azuis, um sorriso nos lábios e uma rosa nas mãos. Eu me assustei - a gente sempre se assusta...
    Ela estendeu a flor e me disse, marota: "Não chora... Você é muito bonita para chorar... Vai dar tudo certo..." Eu sorri para ela, peguei a flor, olhei pra frente, e quando virei para ela novamente, ela já não estava mais lá, nem ao redor do carro, em nenhum lugar. Mas tinha sido real: a rosa descansava no meu colo e perfumava o ar...

    E você, em quantos anjos já esbarrou?

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