Já escrevi muita poesia. Nos últimos dois anos, no entanto, pouco dedilhei nesse campo.
Mas hoje fui reler algumas delas e resolvi deixa aqui algo escrito em Junho/99. Eu já andava por caminhos felizes, mas de dentro de mim ainda saíam reflexos de tempos sombrios - quem sabe, adivinhando o futuro que me atropelou um ano depois...
Mais tarde eu me lembraria de nós
com o coração estremecido,
a alma sombria no olhar perdido,
o corpo em brasa na solidão do quarto...
Mais tarde eu olharia para o passado
com a estranha sensação de ter sido
um fantasma num teatro de portas fechadas,
as luzes apagadas,
sombras na escuridão:
atriz e platéia diante de um palco
suspenso num deserto inerte,
eu, uma mulher de pano...
E muito mais tarde, contudo,
eu teria saudades da brevidade pura
de um sorriso livre sem manchas,
da risada inocente,
do brilho sem mácula que por algum tempo
foi parte de mim.
Teria saudades da minha beleza,
das suas mãos calmas me tocando a face clara,
da criança inquieta conhecendo a alegria...
Eu teria saudades da ausência de lágrimas
banhando-me o rosto,
dos sonhos que nunca se perdem,
de uma vida com razão...
Mais tarde...
‘Mais tarde’ é um tempo que mora em mim
e que antevejo por trás das nuvens que se formam
adiante de um céu que para nós começa a se fazer escuro...
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