• Porque escrever é um vício.

    Hoje o dia amanheceu muito claro de sol. Eu desci na piscina.

    Por volta de meio-dia, quando empregadas e babás recolhem os filhos alheios para o almoço, ficou tudo vazio e quieto: a piscina só pra mim. Sem espirros, bombas, gritos ensurdecedores: só o barulho silencioso das águas...

    Fui nadar: a água estava morna - aqui tem aquecedor. E depois de cruzá-la umas três vezes, quase sem fôlego - a piscina é olímpica -, tratei de boiar.

    Então, de repente, uma mãozinha tocou delicadamente a minha: era Kathryn - será mesmo assim que se escreve seu nome? Não importa.

    Kathryn é uma menina de cinco anos, lourinha e pequena, os olhos muito azuis, que mora no terceiro andar. Pinta os cabelos de castanho, porque não gosta de ser loura: a mãe deixa.

    Na primeira vez que me abordou, logo que nos mudamos - no verão passado -, saiu-se assim:

    - Você é mãe de quem?

    - De ninguém - respondi.

    - Você não tem filhos?

    - Não.

    - Mas você tem marido - disse, tocando minha aliança.

    - É.

    - Só não tem crianças.

    - Não.

    Ficou me olhando, pensativa - agora sei, numa alternativa pra me salvar daquilo, de não ter filhos. Então sorriu:

    - Eu posso ser sua filha aqui!

    Então ficou combinado assim: quando estamos na piscina e a mãe dela não está, ela faz as vezes de minha filha.

    E ri comigo, nada, dá cambalhotas. Penteia meus cabelos, me conta histórias - as que ela inventa e as que lhe contam. Pede pra eu lhe passar protetor solar e diz que, quando crescer, vai ser parecida comigo: uma criança adorável.

    Kathryn é mais uma filha postiça...


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