É... Algumas pessoas têm problemas com o silêncio. Ficam constrangidas diante do intervalo que se instala de repente, um intruso no meio da conversa.
É difícil mesmo compreender sua necessidade, mas a cumplicidade que mora nas entrelinhas de quem consegue respeitar essa pausa, é indescritível.
Quando criança, eu fui muito falante: a infância e suas apaixonadas descobertas, fizeram de mim um ser comunicativo, expressivo, vibrante.
Só mais tarde, quando o manto do entendimento se estendeu no meu interior, é que entendi a importância de ficar quieta. E tornei-me uma mulher que fala pouco: minha expressão maior é a escrita. Por vezes, nem consigo explicar-me através da voz: tenho que escrever para me fazer compreender.
A maioria das pessoas com quem convivi eram/são adeptas do silêncio - ou, quem sabe, adotaram essa fórmula para uma convivência melhor comigo.
Nos tempos em que fiz rallye, minha dupla era perfeita: no que chamamos de "neutro" - que são passagens sem marcação de tempo e distância (geralmente antes do intervalo de almoço e no fim da prova) -, descansávamos, literalmente: ela pousava sua calculadora e apetrechos de navegação sobre o console, e eu continuava a dirigir, despreocupada. Uma música sempre tocava no rádio/tape/CD, mas nós nos recolhíamos à paisagem, à estrada livre, ao vento, às próprias sensações.
E foi assim que nos descobrimos amigas: através do que não era dito. A troca entre nós era mágica - muitas vezes, desvendamos o pensamento uma da outra e rimos muito. Cintia é uma mulher muito especial. Pena termos nos enredado por atalhos tão diferentes... Eu sinto muita saudade...
Mas o silêncio, creiam, é uma dádiva.
No mais, hoje fico com Mário de Andrade: "Que bobagem falar que é nas grandes ocasiões que se conhece os amigos! Nas grandes ocasiões é que não faltam amigos. E a compaixão, a piedade, a pena se confundem com amizade. Por isso tenho horror das grandes ocasiões. Prefiro as quartas-feiras."
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