• Porque escrever é um vício.

    Já que faltei à Crônica do Dia na última quarta, fica uma aqui...

    "Outro dia ouvi a história de um rapaz que sentiu-se mal durante a madrugada e resolveu ir até o hospital. Preocupado com o fato da mãe, de repente, levantar-se e não encontrá-lo na cama, ele foi avisá-la. Ouviu um “Tá bom...” sonolento, sem qualquer indagação ou eventual tom de preocupação. No Pronto Socorro, o médico de plantão o aconselhou a ficar na enfermaria até a manhã seguinte. Passou a noite assim: sozinho, soro no braço, maca debaixo de um teto branco entre paredes geladas.
    Sempre ouço dizer que uma mulher que não experimenta a maternidade não é completa. Que completude é essa a que se referem nunca vou saber – que já não tenho qualquer pretensão de ser mãe. Mas sempre me pergunto se as mães sabem do significado real da dádiva com que foram premiadas; se têm alguma noção de seu papel na vida dos filhos; se saberão lidar com o abandono com que os premiam, ainda que sem perceber, quando eles devolverem essa mesma moeda lá adiante – igualmente sem qualquer maldade.
    Meu questionamento tem base: vejo filhos demais por aí por sua conta e risco, podendo contar muito pouco com suas mães. Há exceções, claro, mas muitas estão voltadas demais para suas próprias vidas, seus afazeres, seus botox e silicones, o novo namorado, a próxima viagem, o projeto profissional e afins. Nada contra: a modernidade mudou o perfil das avós – antes tricotavam, agora compram pulôveres por e-mail e mandam entregar por Sedex -, porque não o faria com o das mães? É só que, então, não cabe mais o discurso da ‘santidade materna’, nem a inversão de papéis obrigatória que dita que, na velhice, um filho tem que arcar com a responsabilidade de zelar por aqueles que cuidaram dele ‘a vida inteira’.
    Ok. Estou radicalizando. Com tanta propaganda na TV, nas revistas, nas rádios, em outdoors espalhados pela cidade inteira, eu devia ter ficado mais comovida com o tal ‘Dia das Mães’, e certamente viria a agradar mais se estivesse elevada por uma aura de bondade, escrevendo debaixo dela. Mas confesso que eu não agüentava mais falar disso!
    E, desculpem a franqueza, acho isso tudo uma grande baboseira. Não vou discordar que a data comercial tem sua beleza: a descendência mais direta de uma mulher homenageia aquela que os gerou, a que deu-lhes vida e que, na teoria, daria a vida por sua prole. Acontece que, na prática, não tenho certeza de ser bem assim. Novos tempos. Mudança de foco. “Mudança de Planos”.
    Sei lá... Seja como for, visitei minha mãe ontem e almoçamos na casa de um dos meus irmãos. Pra nós, a data cumpriu o papel de organizar um encontro familiar cada vez mais raro e, pensando bem, o evento, para cada um, tem um propósito positivo, mesmo que não seja igual para todos."

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