• Porque escrever é um vício.

    Hoje é aniversário do meu sobrinho e eu liguei pra dar um oi e um beijo além das distâncias. Ele faz doze anos.

    Doze anos atrás eu queria muito ter um filho. Tinha tido todos os meus planos interrompidos pelo autor que perdeu o enredo da minha novela e eu estava ainda me recuperando dos três anos anteriores em que tinha casado, ficado viúva, desmontado uma casa, montado outra, parado uma faculdade, começado outra, saído de um emprego, me adaptando em outro, enfim: um literal recomeçar, daqueles em que o chão some e a gente tem que iniciar a reconstrução inclusive dele.

    No meio disso tudo, meu irmão, que é seis anos mais novo, anunciou que ia ter um filho.

    Nem eu saberia dimensionar pra contar aqui a raiva que eu senti: foi outra queda pra mim. Eu fiquei indignada, literalmente - embora não tenha dito uma palavra que, afinal, ele não tinha culpa da minha vida estar do avesso. Mas foi um baque indescritível, como se ele tivesse passado por cima do meu tempo, avançado adiante de mim, me atropelado, não esperado a minha vida acontecer, que eu era a primeira, eu que merecia que o meu pai tivesse o primeiro neto, eu, eu, eu... Ah! Que bobagem! O roteiro nunca é o nosso!!!

    Mas eu devo ter passado essa emoção toda em algum deslize dos meus atos - que eram sempre solícitos (eu levava minha cunhada ao médico, comprava mil presentinhos, estava sempre disponível...). Só que é possível que, pelas brechas, o meu desencanto fosse transparente.

    E quando o Robertinho nasceu, estávamos todos lá na maternidade, eufóricos, ansiosos e felizes, com todas as sensações que essas ocasiões costumam provocar.

    E depois, já no quarto, nós todos ainda lá, trouxeram o bebê. E minha cunhada, Cristina, foi dona de uma das maiores generosidades que eu recebi: quando a enfermeira estendeu o pequeno para ela, ela disse: "Dá pra ela segurá-lo primeiro." E a enfermeira pousou aquela criaturinha mais querida nos meus braços e se eu lamentei que não fosse meu, agradeci infinitamente por, de algum jeito, ele ser meu da mesma forma.



    Doze anos depois eu ainda não tenho um filho e já não sei se o terei - sequer sei se o quero. Peguei tantos caminhos diferentes dos planejados pra chegar aonde estou, e tudo é táo distante do sonho inicial - embora de alguma maneira perfeito -, que dúvidas e certezas se entrelaçam e eu aprendi de não escrever o futuro antecipadamente - nem na memória - e de viver um dia de cada vez.



    Bem... Bom mesmo é que Robertinho faz doze anos e é um menino encantador - já bastante crescido que ganhou seu primeiro celular! -, pra quem eu desejo vida, muita vida e mais vida.

    E tem também a Letícia, que veio seis anos depois.

    E pra mim, ambos são muito meus sem que o sejam...




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