• Porque escrever é um vício.

    Esclarecendo: a pesquisa aí debaixo não é para tese nem nada: é só curiosidade mesmo.

    Semana passada eu assisti ao filme Infidelidade, de Adrian Lyne, e à peça Gota d´Água, de Chico Buarque. Ambos tratavam do mesmo tema - a traição -, e suas reações, conflitos, desesperos... Fiquei pensativa sobre como as pessoas enfrentam isso na vida real - apesar de conhecer alguns relatos.

    Pessoalmente, concluo que racionalidade é a contra-mão da traição. O sujeito traído se perde na surpresa, no susto, na incompreensão: não sabe se a culpa é dele, do outro, do terceiro. E, de toda forma, se sente sempre injustiçado, uma vez que, na sua ótica, ele é o dedicado enquanto o outro se lançou numa aventura - que, normalmente, não tem real significado: é fruto de uma atração sexual, cultural, física, extra-rotina-casamento.

    O traído fica suspenso no limite de uma razão que lhe falta e é passível, sempre, de cometer desatinos que, em sã consciência, o deixariam horrorizado.

    Infidelidade é algo que cabe no que eu chamo de tragédia sem sentido: fatalidade na exatidão da palavra.

    E quando ligações paralelas são retratadas nas telas ou nos palcos dão a impressão de passar num tipo de câmera lenta que apenas olhos muito atentos e câmeras fotográficas posicionadas no tempo e ângulo certos podem captar com intensidade: é mais do que está à mostra...

    Aliás, essa coisa de se deparar com a cena nas mãos - como acontece no filme - é bem complicada. E o encontro entre os que dividem o mesmo par?

    É algo com o qual se deveria ter cuidado porque ninguém se conhece tanto a ponto de saber como vai reagir - e aqui, acho pouco se parametrar pela calma peculiar de um ser. Dizer que porque alguém é da paz, vai se manter passivo cara-a-cara com uma situação extrema como essa, é brincar de roleta-russa.

    E ninguém está livre de protagonizar um crime ou uma atitude drástica - inclusive contra si mesmo - pressionado por uma emoção negativa que não consegue controlar. Não que justifique, mas acho que se compreende.

    O curioso é a constatação de que essa maldade da vida pode, em algumas circunstâncias, fortalecer a relação. Entre mortos e feridos, alguns se salvam; todos sofrem, no entanto: é o tipo de situação que nunca acaba bem.

    É pena que as pessoas não consigam, sempre, se afastar de ocasiões que possam chegar ao limite. Tem um momento, aquele, em que a história poderia ter seguido outra trilha e não causar tantas perdas e danos.

    A questão é que só se sabe disso depois, quando a memória desenha e compara o que foi e o que poderia ter sido. Só que não dá mais para reescrever, porque o tempo não parou naquele flash de lucidez que, às vezes, até se teve, mas se deixou escapar...



    Era isso... Se alguém tiver outra percepção a acrescentar...




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