Então eu fui lá conferir a Gota d'Água - a visão brasileira de Chico Buarque e Paulo Pontes para Medéia.
Eu tinha dito a ela que possivelmente gostaria da peça porque era amante da tragédia; ela me respondeu que eu gostaria porque era sensível. Por qualquer das razões, fato é que eu adorei.
Gota D'Água trata do sofrimento, do desespero, da ingratidão, do rancor, de vingança. Aborda, com propriedade, os rompantes extremados de uma mulher enlouquecida pela dor: sim, a dor enlouquece - isso eu já sabia há muito tempo... E a dor tem uma faculdade: ela desencadeia uma torrente de acontecimentos que afeta todos que estão ao redor. É um efeito dominó.
E a Menina no Espelho?
Primeiro ela é linda. Depois, ela é Joana, a mulher traída e abandonada, que perde o controle de sua vida porque passou tempo demais tecendo trilha para o homem amado - que, de repente, vai embora, troca-a por outra mulher (e aqui não importa que tipo de mulher era, mas que simplesmente era outra).
A Menina no Espelho, na pele de Joana e de todas as mulheres do mundo que conheceram a traição, é jovem e pequena mas torna-se gigante em sua atuação - no imenso palco falta espaço para tanta emoção -, e traz no rosto o envelhecer de quem sofre por um amor perdido. Sua voz tem o tom certo da amargura, do ódio, da indignação: seu grito e seu silêncio falam por sua alma. Seus gestos são perfeitos: ela é, naquelas duas horas e meia, a própria encarnação de Medéia.
É pior viver com a tragédia do que morrer...
Imperdível!!!
Gota d´Água - Chico Buarque/1975
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota dágua
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