• Porque escrever é um vício.

    A Menina no Espelho postou um texto de Hilda Hilst.

    Tive o prazer de trabalhar com ela por alguns dos anos em que estive envolvida com imprensa. Hilda escreveu, por algum tempo, para o jornal em que eu trabalhava - o maior regional do interior, na cidade de Campinas. Eu era secretária da Diretoria de Jornalismo e os textos dela chegavam primeiro pra mim - que, depois de ler, repassava ao Diretor.

    Ela é uma mulher pequena, já um tanto avançada em idade; vivia (acho que ainda vive) numa chácara na beira da estrada, rodeada de cachorros - talvez uns cem: costuma dizer que os animais são infinitamente melhores do que as pessoas (e tem sua razão). Ela fala devagar e baixinho, mas isso não quer dizer que abrigue algum tipo de calma; muito pelo contrário: ela tem dentro de si um vulcão.

    E foi essa impetuosidade que a afastou dos matutinos. Suas crônicas tinham um ar muito picante, um quê de arrogância que passou a incomodar - a franqueza geralmente causa impacto e a elite que lê jornal tem seu poder, ainda que velado, na escolha do que quer em sua mesa no café da manhã.

    Seus romances, sempre enredados num erotismo afrontado, não encontraram em sua época muito eco: as editoras tinham um pouco de medo da irreverência desmedida - especialmente das escritoras que ousaram dedilhar o pensamento e a imaginação num campo minado para mulheres.

    É pena. Hoje seus livros não causariam mais tanto estardalhaço - sexo está nas esquinas, escancarado e sem qualquer pudor -, mas, como ela mesma sempre brinca em suas entrevistas - cada vez mais raras -, escritor no Brasil só é lembrado, se muito, depois de morto. Ela foi aclamada em Paris, enquanto aqui despertava estranheza e desconforto. Mas é possível que depois do seu descanso eterno seus escritos venham à tona. Quem sabe?

    Dela, o que gosto mais são dos poemas - um dos quais deixo aqui:




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