Minha enteada levou a receita de pão.
Morando com a sogra temporariamente - o apartamento dela está em reforma -, ela quer agradar: está fazendo pães para comerem no intervalo do jogo. De dez em dez minutos, ela liga - tem medo de errar. Divirto-me muito imaginando-a cheia de farinha, a neta chorando - ouço pelo telefone -, e o marido e a sogra ao lado, espantados com tamanha ousadia (ela não é muito doméstica).
Faço pão desde pequena, pois venho de família que sempre adorou cozinhar. Meus avós tinham fazenda no interior de SP e ainda lembro de mim na imensa cozinha de chão batido junto à minha avó, sovando massa para assar em forno à lenha. Eu era muito pequena, mas já me misturava com minhas tias para os afazeres culinários.
Acho mesmo que a gente nasce com alguns dons e eu devo ter sido abençoada com uma única dádiva dos deuses: ser mulher, tal como Hera, a do lar.
A mãe do meu primeiro marido tinha uma fazenda, cem quilômetros à frente de Poços de Caldas. Costumava passar alguns meses no meio do mato e quando fui visitá-la lá a primeira vez, fiz-lhe pão e ela me disse que nunca tinha visto uma moça com tamanha habilidade. Considerando que ela não simpatizava muito comigo, era um tremendo elogio!
Às vezes, olho para minhas mãos e acho-as muito velhas. Como também, muitas vezes, ao me olhar no espelho não me reconheço. Quem sabe se tudo não é só uma questão de alma. Nesse caso, suspeito que a minha seja muito antiga...
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