• Porque escrever é um vício.

    Eu tenho dormido melhor - isso significa mais horas entregues a um adormecer calmo - e eu quero agradecer especialmente a ela por suas orações amigas nesse sentido.

    Mas tem algo que me desperta no meio da madrugada, como se alguém me chamasse, um encontro marcado que não combinei: é assim que consigo definir esse estalo repentino que me acorda - às vezes num susto, às vezes como se apenas me tocasse ou fizesse sombra ao meu lado. Eu tenho o sono leve...



    Acordei por volta das cinco da manhã ontem e fui ver TV. Começava um filme na Net: Átila, o Huno. Eu gosto dos épicos, das histórias que construíram e dividiram fronteiras, de como o mundo se fez, enredado na ambição, na luta pelo poder, no amor e no ódio: eu gosto de tudo que é antigo e vive ainda hoje nas nossas raízes, de um jeito mais sutil e velado, mas a nos rondar.

    Passei o dia com o que chamo de segunda mente ligada nas imagens que me fizeram companhia ao amanhecer.

    Há muito tempo os sentimentos baixos regem a humanidade. O olho-por-olho foi a lei e acho que perdão não era sequer palavra existente. Quando em alguém uma mágoa era plantada, não era mais possível desfazê-la: a ira corroía soberana - ela uma rainha indestrutível -, uma sede incessante de vingança, ainda que houvesse algum tipo de transformação nas disposições afetivas. Nenhum bem era capaz de sobrepor-se ao menor mal.

    A traição sempre foi o ponto alto da construção dos reinos: havia sempre uma conspiração pelos vãos, uma espécie de trevas espreitando através das paredes de pedras, dos véus de seda, do brilho dos olhos.

    E havia o medo - que fazia morada em qualquer coração, do mais poderoso ao escravo...



    A humanidade mudou, é verdade. Perdeu seu hábito de fazer justiça com as próprias mãos.

    Hoje, boa parte de nós é bastante racional e não apunhala o inimigo, no sentido literal, nem de frente nem às costas.

    Nossa amargura, entretanto, não é diferente da de séculos atrás: o que nos difere daqueles que pagavam tudo na mesma moeda (ou em pesos semelhantes), é apenas um tipo de controle emocional aliado a uma cultura que, pode-se dizer, evoluiu muito.

    Eu fico pensando, no entanto, que muito provavelmente, em algumas situações, muitos de nós (e eu não falo aqui dos assassinos profissionais) - quem sabe se por instinto, quem sabe se por razão - resolveria impasses na ponta da espada.

    Mas para nós, seres superiores na escalada do tempo viventes na Nova Era, o golpe moral é a arma e somos pacientes - e eventualmente olhados como virtuosos - quando esperamos que a roda da vida, num destino traçado ou não, devolva, sem qualquer movimento nosso, o mal ao mal e o bem igualmente.

    Eu me questiono se sábios somos nós ou eram eles - que sangravam a própria dor com o sangue de quem a provocava...



    Parece que hoje despertei maligna... Perdão.




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