• Porque escrever é um vício.

    Eu, como ela, estou sofrendo de memória. Essa qualquer outra coisa também anda me povoando - e olha que, exceto para nomes de pessoas, eu sempre tive memória fotográfica.

    Mas nos últimos tempos - e até comentei aqui em casa - eu ando esquecendo tudo.

    Se vou ao mercado sem uma lista, deixo pra trás metade das compras. Se não vou ao shopping com um roteiro - quando não vou apenas passear e tenho algo necessário a fazer por lá (como consertar uma jóia que está na minha bolsa há semanas e eu já passei em frente à joalheria umas dez vezes) -, volto pra casa sem saber com que propósito tinha saído...

    É... Eu ando assim... Esqueço datas, números de telefones, nomes de livros - e nem posso dizer que ando seletiva, porque ando esquecendo tudo mesmo... Desligada. Talvez meu inconsciente tenha levado muito a sério aquilo de viver um dia de cada vez.

    Mas, com toda sinceridade, lembrar de algumas coisas não anda me fazendo a menor falta.

    Faz uns anos, um amigo - Rubem Alves (sim, o escritor, eu trabalhei com ele e desenvolvemos um imenso carinho um pelo outro) -, desejou-me, no meu aniversário, ESQUECIMENTO. Explicou-me que despejava sobre mim essa benção porque, geralmente, o passado nos mantém presos, estáticos em experiências que nos geraram traumas e, agarrados a isso, plantamos o futuro no medo das repetições, deixando de viver as alegrias e prazeres cotidianos - especialmente as pequenas coisas -, uma vez que estamos pré-ocupados em não errar e, dessa forma, ficamos sempre com um pé atrás com tudo, desconfiando do mundo, alertas para não se deixar apanhar. Sem esquecimento deixamos de correr riscos porque nossa consciência nos lembra sempre que poderemos sofrer...

    Parece que, finalmente, esse inofensivo desejo enfeitiçado desceu seu manto sobre mim...



    ESQUECIMENTO... Desejo a você também...




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