O desfecho do sequestro do publicitário Washington Olivetto, aqui em São Paulo, me fez pensar em duas coisas específicas: o quanto somos voltados para nós mesmos e no quanto confiamos nas aparências.
Vejam só: este homem esteve trancafiado por 53 dias a dez quadras de onde moro, a cinquenta metros da Av. Santo Amaro - local de acesso constante -, numa rua mesclada por casas residenciais e comerciais - o que demanda um razoável movimento -, e ninguém - ninguém! (e isso inclui os passantes cotidianos das empresas da região) -, foi capaz de perceber qualquer estranheza em relação àquela casa e seus possíveis moradores.
Ou seja, somos seres que só olham para o próprio umbigo.
A segunda questão: qualquer pessoa pode ser um sequestrador em potencial sem levantar suspeitas.
Eu, por exemplo, posso sequestrar alguém, colocar no porta-malas e entrar no meu prédio pela garagem - que é subterrânea e eu tenho o controle remoto do portão eletrônico -, sem ser vista por viva alma. Subo pelo elevador com uma arma - adquirida no câmbio negro - apontada para o sequestrado - ato sutil que o fará ficar de boca calada. Entro com ele no meu apartamento e o tranco no quarto de empregada - dois metros por um e meio, sem janela. Amordaçado e amarrado - mesmo que eu receba visitas -, ele pouco barulho poderá fazer e ninguém quer ir na área de serviço, afinal.
E assim os dias vão passando - enquanto outra pessoa, em outro lugar, vai negociando valores.
Continuo minha vida - vou ao supermercado, ao shopping, ponho o lixo pra fora, passeio com os cachorros e sou uma senhora moça respeitável.
E quem adivinharia que eu mantenho alguém em cativeiro? Ninguém - nem mesmo a minha mãe!
Mas é mais ou menos assim que as coisas funcionam, companheiros...
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