Toda casa tem sua história.
A casa do meu pai, construída no fim da minha adolescência, foi projetada com base no sonho de envelhecer, com filhos e netos ao redor.
Quatro suítes, seis salas, jardim de inverno, garagem para oito carros e muito espaço no último terreno de uma rua sem saída, são agora um labirinto de memória.
Nas paredes ainda se vê as sombras dos anseios que se fizeram meia verdade: os filhos se reúnem junto aos netos, mas envelhecer, para ele, estancou-se no tempo e é herança da minha mãe, junto com a solidão.
Tudo ficou grande demais. Entretanto, porque a lembrança é um poço de onde se pode retirar qualquer imagem, é possível enxergar, pelas brechas, a alegria da casa cheia, das festas de fim de ano regadas a champanhe, os almoços de páscoa, os aniversários e reuniões muitas em torno da mesa imensa - que sempre foi símbolo de união, riso e lágrima, conversas sérias e as nem tanto.
Eu me lembro... E lembrar desperta em mim, como sempre, a imensa contradição que há entre a ausência física - que gera saudade -, e a presença eterna desse homem que me amou primeiro - que me faz agradecida por ter sido parte dele e de tudo que ele desejou.
Mortes precoces deveriam ser banidas da vida... Ninguém deveria ser autorizado a morrer antes de realizar tudo o que projetou...
Mas então tudo seria perfeito, e sim, claro, eu já fui informada de que a perfeição não existe...
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