Não é raro: nosso olhar se volta para o detalhe das coisas sem importância e abre um abismo de escuridão à nossa frente.
Outro dia eu estava pensando nas pequenas coisas ruins que nos arrolam. De repente, a maldade se instala ao redor e quebra a harmonia: o todo se perde do foco, ficamos cegos e, tateando no escuro, montamos o quebra-cabeças às avessas, num inventar de cores e peças que, na lógica, não encaixam. Nossa imaginação faz o enredo e nessa vasculhação, nosso ânimo despenca penhasco abaixo.
Eu sei, porque faço esse exercício contra mim de vez em quando. E ele é o atalho mais curto para o semear da dúvida e do romper da beleza do nosso cotidiano.
Se tem uma coisa que a gente está sempre tentando aprender, é o atrelar-se à verdade do que realmente faz sentido e pode modificar nosso destino.
Houve um tempo em que eu procurava a razão última das coisas. Depois, acabei descobrindo que a gente pode morrer sem saber algumas delas, cujo conhecimento só nos vai causar dor. Numa decisão relevante, no fundo, só consideramos o que está à mostra, de modo que o que está oculto, pode não fazer real diferença: somos imediatistas, tomamos nossos rumos, geralmente, baseados no presente. Seguindo esse pensamento, talvez seja mentira que o passado tem poder sobre nós - aquilo de que algo no momento fez transbordar o que estava se acumulando. É o agora que nos impele à destruição da solidez - e eu acho mesmo que é assim que deve ser: nossas escolhas devem estar voltadas para esse segundo.
Na vida diária, nossos crimes devem prescrever imediatamente. Sem construir baú de ossos - que, quando aberto, só angaria mágoas desnecessárias...
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