• Porque escrever é um vício.

    Eu vou deixar aqui hoje um texto do Miguel Falabela, que ela disse que é uma expressão de vida nova - cenário que nesse momento estou tricotando, fechando ciclos antigos, abrindo passagem para um outro tipo de recomeço...

    Parece que eu estou sempre recomeçando, feito cobra que troca a pele, tal como lagarta que abre asas e voa galgando o mundo... E nem faço muitos movimentos: a renovação se faz por si mesma...



    Hoje, estou desatando da memória as imagens de amor. As minhas, as nossas imagens de amor, porque as coisas são como são: no momento em que escrevo e no momento em que você lê, abrimos esses arquivos de imagens geradas a partir do amor, que são - vamos admiti-lo antes que seja tarde - os nossos arquivos prediletos. Tudo o que realmente nos interessa está arquivado ali. Na câmara escura das nossas recordações. Imagens que vamos recolhendo vida afora.

    Elas têm nome e uma história para contar, cada uma delas. E nostalgia. Nada mais é do que a saudade da emoção vivida, num determinado momento que passou veloz. Emoções e emoções e ainda tanta emoção a ser vivida! Muito além dos indivíduos, além das particularidades. E todas essas químicas se processando no nosso corpo, pois há quem diga que amor nada mais é do que uma sensação provocada, para evitar a loucura da espécie e perpetuar o predador. Uma ilusão passageira, uma descarga de substâncias certas no sistema. Lubrificação. Cuidados com a máquina.

    Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência. Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo. Nunca mais a nostalgia daquele mundo de línguas dançando balé no céu das nossas bocas. Nunca mais! E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor. Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de vento que sopra folhas e poeira num arranjo aprumado. Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom. Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência. Assim é que deve ser.

    Nunca mais nesta vida quero gente se indo. Já está de bom tamanho. Coração da gente vai absorvendo os golpes (que são muitos e de todos os lados, sempre. Com quase todo mundo é assim). De repente, as pessoas começam a ir embora, por morte matada e morrida, por desamor, por tristeza, por ansiedade, por medos diversos, seu coração vai recebendo as pancadas e uma hora dá vontade de dar um berro, sair vomitando as mágoas todas que a gente foi engolindo. Nunca mais gente partindo sem motivo aparente, sem dar nome aos bois ou uma denúncia vazia. Nesta vida, nunca mais!

    E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar, dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta, a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita. Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusória e da química do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos íntimos.

    Nunca mais. Nunca mais um dia atirado ao nada, nunca mais o verbo que não se completa, todas as palavras que não foram ditas, todas elas, uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos, amor costurando o texto, que é linha que não refuga de jeito nenhum. Nunca mais. O coração se magoando todo o dia, a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendo de que é capaz de mudar cada uma das histórias, reescrever o livro das nossas vidas. Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecido se você não tivesse ido àquele lugar, àquela noite, quando o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor? Quem é que vai nos explicar?

    Ninguém. Ou alguém.





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