• Porque escrever é um vício.

    O dia atribuído às crianças já passou novamente... Claro: todos nós sabemos que ele é, na verdade, só mais um apelo comercial.

    Não importa: ele deveria servir para darmos uma olhada para nossa criança interior...



    Eu me lembro que às vésperas dos meus trinta anos, descobri um paraíso: o Universo dos Contos de Fadas. E compreendi que ainda não havia crescido.

    Perdi-me como O Patinho Feio, onde me identifiquei com a realidade de um mundo que, às vezes, me rejeita; percorri bosques junto à Branca de Neve, fugindo de uma madrasta má e mergulhando na pequena casa dos Sete Anões, refugiada, protegida, eternamente amada; dormi o sono dos cem anos, tal como A Bela Adormecida, tentando escapar de sentimentos que me aprisionam e entristecem; passeei por florestas, Chapeuzinho Vermelho carregando maçãs para a Vovózinha, despreocupada com o perigo do Lobo Mau; apaixonei-me por uma Fera, tal como a Bela, e brinquei num castelo encantado onde xícaras, castiçais, relógios, talheres e espanadores tinham vida; corri pelas escadarias de um palácio como Gata Borralheira ao som das doze badaladas, deixando como rastro meu sapatinho de cristal...

    E fui a Fada Sininho vivendo na Terra do Nunca; Alice fascinada com o País das Maravilhas; o menino Arthur protegido pelo Mago Merlin; Índia Pocahontas, dividida entre o Amor e suas origens; o Pequeno Polegar enrustido em sua casca de noz...

    Viajei pela vastidão do reino animal, tal como O Rei Leão e Bambi, com medo da responsabilidade; senti-me como Pinóquio envolvida nas mentiras de uma Raposa; voei num tapete mágico, princesa Yasmine, buscando a liberdade e a alegria; vesti-me com a cauda da Pequena Sereia e aventurei-me por mares desconhecidos; Rapunzel, eternamente enamorada, jogando tranças do alto de uma torre; Menina dos Fósforos sonhando nas pálidas chamas, morrendo na neve; Rainha da Neve, abarcada pela sua amargura, espalhando cacos de espelhos... E vi-me, tal como O Corcunda de Notre Dame, esquecida numa Catedral, assistindo a vida acontecer lá fora...

    Sim. O meu mundo se misturou com o Mundo das Lendas, Fábulas e Histórias do Faz de Conta. A criança que há em mim aflorou. O domínio da Fantasia entrou em marcha e o caldeirão mágico da minha imaginação aguçou-se. Por esse mundo sublime, deparei-me com o tempo de colocar-me frente a frente comigo mesma, com meus medos, minhas ansiedades, minha cumplicidade e passividade diante da vida. Aprendi a olhar-me no espelho da Bruxa - sem querer ser a mais bela -, mas a fim de descobrir quem sou, quem são meus semelhantes, entender-me, aprender a amar a mim e aos meus.

    O processo foi lento. Difícil. Voltar para dentro de si é algo que envolve força de vontade sobre-humana. Mas descobri que estava em tempo de voltar para casa.

    Bom fazer esse retorno através do mundo infantil - no qual fui “lançada” por sugestão inocente de alguém que me amou primeiro. Passeando por ele, ganhei a oportunidade de equilibrar, através das ressonâncias, minhas próprias emoções.



    Em qualquer tempo, devemos uma celebração em defesa da criança que guardamos escondida no coração. É preciso resgatá-la. Descobrir a alegria de viver através da crença em Fadas, Magas, Princesas, Lobos e Anjos. Conversar com amigos invisíveis, cavalgar em cavalos alados, correr, livre, com os cabelos ao Vento. Ter leveza no olhar, um beijo sempre carinhoso e verdadeiro, o abraço que acolhe e o jeito mimado para ganhar um presente.

    É a única maneira de nos depararmos com a convicção no poder da união e na força dos sentimentos. Conseguiremos enxergar a beleza dos campos, a simplicidade das flores, a lealdade dos animais, o além das aparências. Aprenderemos a acreditar no brilho dos olhos e na verdade dos sorrisos. Sonharemos com a magia da Lua e faremos pedidos às estrelas cadentes. O Sol será nosso guia...

    Com a inocência das crianças acreditaremos no Amor, o Dom Supremo, e sendo essa nossa maior busca, haveremos, sempre, de acreditar na Vida...




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