• Porque escrever é um vício.

    Eu tive a alegria de conhecer Hilda Hilst durante o período em que trabalhei como secretária da Diretoria de Jornalismo do maior jornal regional do interior de S. Paulo, em Campinas, antes de me casar e vir morar na capital. Ela vive numa chácara, à beira da rodovia Anhanguera, rodeada de cães - uns vinte... Costuma dizer que seus animais são mais companheiros do que muitas pessoas que passaram por sua vida o conseguiram ser... Eu acredito...

    Escritora de mente privilegiada, nunca teve reconhecimento por sua obra, sendo posta à margem por conta de seus escritos ousados, o afrontar a sociedade com suas palavras carregadas de ironia e de uma paixão que só a ela é peculiar... Do jornal, onde escrevia uma crônica semanal, foi afastada porque, segundo os diretores, seus textos chocavam os leitores do matutino que era 'essecialmente familiar'...

    Em tempos de eleição da Academia Brasileira de Letras para a disputadíssima cadeira de Jorge Amado, ocorre-me que, entre os desejos políticos e o ego de muitos, ela seria um nome digno para se imortalizar... É pena que não será lembrada...



    Poema XL, "Do Amor" - Hilda Hilst



    Aflição de ser eu e não ser outra.



    Aflição de não ser, amor, aquela

    Que muitas filhas te deu, casou donzela

    E à noite se prepara e se adivinha

    Objeto de amor, atenta e bela.



    Aflição de não ser a grande ilha

    Que te retém e não te desespera.

    (A noite como fera se avizinha).



    Aflição de ser água em meio à terra

    E ter a face conturbada e móvel.

    E a um só tempo múltipla e imóvel

    Não saber se se ausenta ou se te espera.



    Aflição de te amar, se te comove.

    E sendo água, amor, querer ser terra.





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